terça-feira, 20 de novembro de 2007

Ode a uma triste vida

O Jacinto, um homem insignificante, nunca viveu tempos áureos. O ponto alto da sua vida deu-se quando estava na segunda classe. A sorte não se limitou a escolher não lhe bater à porta, tendo demolido a sua morada de forma deliberadamente na pele de um eucalipto que decidiu cair num dia de ventania. Teve uma existência tão aborrecida que, um dia, mostrou-me com orgulho o sítio onde o vizinho estacionava o carro. Numa tentativa de melhorar a sua vida, tentou vender a própria alma na Internet. Infelizmente, vendeu-a a um sujeito que nunca lha pagou. Não fez muito. Escreveu uma autobiografia que intitulou.”Porque estão a olhar para mim assim?” Mas havia uma coisa de que se orgulhava. Era um dos poucos homens que, aos oitenta e sete anos se lembrava do nome de todos os seus dentistas. Morreu no dia de S. Martinho depois de comer castanhas e beber aguapé chilena de origem estranha, depois de ter comido por engano um pacote de pastilhas digestivas em jejum.

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