terça-feira, 3 de abril de 2007

Calem-se e tirem os chapéus- O esperado final em formato de dramalhão mexicano versão +/- concentrada

…Hoje, por fim, decidi terminar a minha reflexão acerca dos minutos de silêncio durante os jogos…

Continuemos então…
Pois, se leres este sem ler a 1º não vais perceber nada. Por isso, não sejas energúmeno e vai ler.
A voz continua o seu apelo:
« E por isso, senhoras e senhores, por respeito para com os mexicanos que podem estar sentados entre vós hoje, e tendo em conta o natural impulso humano que nos leva a rir das desgraças dos outros, sempre que alguém morre ou fica estropiado, tentemos mais uma vez, com mais convicção, fazer um minuto de silêncio pelos quarenta e três instrutores de dança mexicanos feios, gordos, atrasados mentais e graves problemas de gengivite ( nova informação recebida por satélite) que foram cuspidos da Montanha Russa. Já para não falar dos pobres palhaços a quem a tragédia bateu à porta quando enchiam inocentemente as bisnagas.»

Estão a perceber o problema? Os fãs não conseguem entrar no espírito. Mas eu compreendo. Sou solidário com os fãs. Porque, epá, francamente, não sei o que devo fazer durante um minuto de silêncio. Vocês sabem? Mas afinal o que é suposto fazer? Estão à espera de quê? Esperam que rezemos? Ninguém o pede. Se querem que se reze, deviam pedir. Até não me importo de rezar ou fingir que, uma vez que, sinceramente, não sei como se reza. Não sei se devemo-nos pôr de joelhos, fechar os olhos e pensar em gatinhos mortos e chorar ou se devemos fazer força para ficarmos com cara de um grave problema de cólicas intestinais. Palavra que não sei. Isto tudo se resolvia com um pedido formal.

Mas não. Não dão instruções nenhumas. Não sei mesmo o que é suposto fazer. Às vezes, tenho pensamentos maléficos. Desejo má sorte às pessoas que estão sentadas ao meu lado para os próximos dias. Imagino milhares de pinguins a serem mortos com catanas por anões viciados em Xanax. Imagino o Cláudio Ramos a levar com um gato morto no focinho. O mais frequente é acabar aborrecido de morte a procurar algo para ocupar o pensamento.

Uma vez, fiz um inventário das borbulhas no pescoço do homem que estava à minha frente à espera de achar uma que tivesse um pêlo para poder puxá-lo durante a confusão do intervalo. Numa feliz ocasião, dei comigo a olhar especado para os seios gigantescos da mulher que se encontrava à minha direita. Duas protuberâncias carnudas a subirem e a descer sob o tímido sol de Fevereiro. E o meu pensamento enveredou por um rumo romântico e terno:

«Porra!!! Gandas mamas! Devia jogar-lhe as mãos assim de repente. Mas… Ná… Ela deve ser daquelas raparigas recalcadas e ia pensar que sou esquisito. Não sabe que isto é tudo timidez.»

É nisto que penso e não consigo evitar. Durante um minuto de silêncio, a imaginação sai-me disparada. Não sei o que fazer. E porquê um minuto de silêncio? Que tem de bom o silêncio? Porque não um minuto de berros? De certeza que os mortos não se vão sentir incomodados, E um minuto de berros punha-me mais animado para o jogo. Mais uma crítica. Porquê homenagear só os mortos? E os feridos? Normalmente há sempre mais feridos que mortos em qualquer tragédia que se preze. Então e eles? Então e aqueles que não morreram nem estão feridos? Aqueles que se limitam a ir ao hospital receber tratamentos e têm logo alta? E que tal em vez de um minuto de silêncio, um minuto de sussuros em memória de todos os que recebem tratamentos e têm logo alta? É uma condição perfeitamente digna. Pessoalmente, sempre quis receber tratamento e ter logo alta. Normalmente, recebo tratamento e a seguir prendem-me numa camisa branca de mangas muito compridas.
A camisa até me fica bem. Acho que é de algodão.

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