quarta-feira, 14 de maio de 2008

Madame, cette musique n'est pas pour vous

A traição não está nos planos das notas musicais, nem das tintas. Um cavalete não cora perante os olhares de soslaio dos pincéis. "Perdoa-se a um amante o que não se perdoa a um amigo" diz a velha máxima. O trompete não toca só para a alvorada, toca também enquanto assiste à morte rápida de uma amizade. Se não se presta assistência a um moribundo comete-se um crime. Se não se ajuda um animal agonizante somos insensíveis, mas quando não se evita o fim de uma amizade é-se o quê? Imoral? Não temos culpa? Então porque é que a consciência nos envenena aos poucos? Enquanto pensa nisto Ema descobre um novo amante e Carlos, o seu tourino marido, sorri porque perdoa. As vacas fazem muuuu, mas os cães que habitam as cabeças não ladram, nem mordem, correm eternamente atrás das suas caudas. Ema acabará por morrer. Nenhum instrumento se ouvirá porque aos traidores é negada a música.

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