segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Ela

Ela caminhava com passos lentos pela ceara. A brisa toldava aquele mar amarelo-torrado como ondas esvoaçantes. O seu cabelo doirado, longo e sedoso dançava ao sabor dos seus passos lentos mas decididos. Borboletas esvoaçavam naquela imensidão calcorreando as papoilas vermelho-sangue. O sol brilhava e iluminava as copas das azinheiras onde cigarras largavam a sua melodia milenar, dando um tom azul-marinho ao horizonte longínquo. Aves chilreavam naquela planura qual concerto dos idos tempos élficos. Uma dor aguda no tornozelo lembrou-a da queda matinal que tinha dado. Nesse instante, um tipo de bata branca passou a correr por ela, agarrou-a violentamente pela cintura derrubando-a. Agarrou-lhe no pé e desceu-lhe a meia com movimentos lânguidos enquanto os seus olhares se cruzavam. Acariciou delicadamente o tendão de Aquiles. Sacou uma bisnaga de Reumon-Gel e besuntou-lhe farta e avidamente aquele tornozelo que tanto a apoquentava. Guardou a bisnaga, levantou-se e correu para longe até se perder no horizonte.Novamente, é bom relembrar que os médicos sem fronteiras não descansam.

2 comentários:

Sandes de Choco c/mortandela disse...

Qualquer dia escrevo melhor e ainda mais "spicy" que o José Rodrigues dos Santos!

Anónimo disse...

Estás no bom caminho! Adorei a parte em que ele a derruba!!!