sexta-feira, 30 de setembro de 2005

Sem abrigo

Quando vejo pedintes na rua, o meu pensamento é sempre o mesmo: podia ser eu. Não tivesse eu uma familia, alguma sorte e tudo seria diferente.
Aquilo que separa um profissional bem sucedido de um pedinte urbano não é a excelência do primeiro mas a ausência de sorte do segundo. Contráriamente ao vadio ou ao criminoso - uma escória a evitar -, há nos pedintes das nossas cidades um estóicismo que deveras me comove.
Não é facil ser pedinte, é necessário uma coragem invulgar para suportar a solidão, a dor das memórias, a consciência da perda. É preciso uma resistência física desumana para suportar o frio e a agressão da cidade. E, é claro, um optimismo nem sempre recompensado: todos os pedintes acreditam ainda na generosidade dos estranhos, uma forma de fé que é, tambem, um exercício particular de dignidade humana.

1 comentário:

Sandes de Choco c/mortandela disse...

Afinal tambem escrevo coisas sérias ein?