terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

Carlos Fisgada

Estamos em 1971 em Angola. A coluna de camiões avança, tinham partido de Luanda há semanas e ainda não tinham chegado a Malange, onde um grupo de rebeldes fazia reféns 3 homens da Força Aérea Portuguesa.
Carlos tinha saído do seu país pela primeira vez, tinha pegado numa arma pela primeira vez e pela primeira vez vira homens e mulheres negras e agora diziam-lhe que os tinha de matar em nome da pátria, palavra que ele não sabia o que queria dizer.
Aos solavancos pelo mato ele olhava maravilhado para aquele país cheio de animais e plantas. Mas o que ele mais gostava era do cheiro de tudo. Todas as semanas escrevia uma carta para a sua madrinha de guerra e namorada. Ele gostava de tudo nela, a forma como lavava na ribeira, o sorriso tímido, os beijos atrás da Ermida lá na aldeia.
Tinha saído de Lisboa há precisamente um mês. Ouve-se um estrondo e outro, gritos, Carlos levou a mão ao peito e sentiu pela última vez a prenda que Concórdia lhe tinha dado na despedida.

3 comentários:

Anónimo disse...

As datas, nomes e acontecimentos são ficção, qualquer semelhança com a realidade são mera coincidência.

Sandes de Choco c/mortandela disse...

Não me digas que a prenda era daqueles fios que se compram nas feiras com o nome do Carlos? É que se fôr, o sentimento é mesmo amor!

Anónimo disse...

Não, é um objecto que já apareceu num dos episódios e é bem mais piroso!